Depois da Primavera com mortalidade absoluta mais elevada dos últimos 12 anos em Portugal, Julho de 2020 agrava a tendência. É o mês de Julho com maior número de óbitos desde pelo menos 2009. Com 10 389 óbitos (número provisório a carecer ainda de actualização), Julho de 2020 teve mais 28% de mortes do que a média de 2009-2019 e mais 13% do que Julho de 2013, o segundo ano com maior número de óbitos.
De notar que neste período o número oficial de óbitos associados à Doença do Vírus Corona 2019 (DOVICA19/COVID19) foi de 158, apenas cerca de 1,5% do total de óbitos do mês. Se considerarmos apenas o número de óbitos acima da média dos 11 anos anteriores (2192 óbitos), apenas 7,2% desse excesso de mortalidade é oficialmente atribuído à pandemia em curso.
Desde 12 de Março de 2020 que a média corrente de sete dias da
mortalidade absoluta diária em Portugal se mantém de forma contínua
acima da média de 2009-2019. São já 142 dias seguidos, 20 semanas, em que a mortalidade se mantém persistentemente acima do esperado.
Diferença diária entre o número de óbitos em 2020 (média de 7 dias) e a média de 2009-2019. |
E este excesso de mortalidade teve o seu maior pico durante o mês de Julho de 2020, ultrapassando o anterior máximo do ano registado em Abril 2020. O pico de Abril coincidiu com o auge oficial da pandemia pelo vírus Corona 2019 em Portugal. Mas se a 9 de Abril de 2020 a média de 7 dias do excesso de mortalidade atingia os 86 óbitos por dia, em Julho esse valor foi ultrapassado durante 11 dias, tendo a média de 7 dias atingido um excesso de mortalidade diário máximo de 127 óbitos a 22 de Julho. Nesse dia, a média de 7 dias excedia o esperado em 48%...
Se contabilizarmos a mortalidade acima da média desde o início do ano obtemos um excesso para os primeiros sete meses do ano de 5900 óbitos, um aumento de 10% no número de óbitos face ao esperado. Ou seja, desde o início do ano de 2020 em Portugal, já morreram mais 10% de pessoas do que se esperaria pela mortalidade absoluta dos 11 anos anteriores. Este é já o ano com maior número de óbitos desde pelo menos 2009.
Este cenário agrava-se ainda mais se considerarmos apenas os últimos 142 dias, correspondentes à evolução da pandemia em Portugal. O valor acumulado de 12 de Março a 31 de Julho de 2020 da mortalidade acima da média ronda os 6 500 óbitos, mais 17% do que se esperaria pela média de 2009-2019.
A onda de calor de Julho de 2020 explicará alguns deste óbitos acima da média, mas todos os anos temos ondas de calor, maiores ou menores, e isso já está reflectido na média 2009-2019 que serve de comparação. O que se está a passar em Portugal vai muito além da onda de calor.
Portugal está a registar um excesso de mortalidade persistente, sem tréguas, há 142 dias seguidos. É absolutamente extraordinário.
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