quinta-feira, 20 de abril de 2023

Apresentação do Episódio 3 das 1001 Margaraças na Cooperativa Mula

 

A convite do colectivo Cooperativa Mula, no Barreiro, irá ter lugar no próximo dia 27 de Abril de 2023, pelas 21h30, a apresentação do terceiro episódio da série documental "1001 Margaraças". A entrada é gratuita. A apresentação está integrada no ciclo CINEMA NA MULA de Abril de 2023.

O primeiro episódio da série conta a história da Mata da Margaraça, enquanto no segundo episódio da série visita-se um projecto de recuperação ecológica numa área de montanha. Ambos foram já apresentados na Cooperativa Mula em Novembro de 2019.

Desta vez, será o terceiro episódio da série a ser apresentado. Neste episódio, intitulado "Boa Sombra", fomos até aos Baldios de Alvadia e Soutelinho, na Serra do Alvão ver como a pastorícia extensiva pode ter um efeito positivo na paisagem.

Após a apresentação dos episódios estaremos presentes para uma conversa informal sobre os temas abordados no episódio visualizado.

O colectivo Cooperativa Mula é um projecto cooperativo cujos princípios são a autodeterminação e organização comunitária para promover a participação da comunidade.

Será um grande prazer voltar a levar as "1001 Margaraças" ao Barreiro. Como habitual, antes da visualização do filme haverá jantar comunitário (carece de inscrição). Estão todos convidados!

Para informações sobre como chegar ver esta ligação do Google Maps.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Medicina com Tempo: Sítio na rede

 

Já está disponível na rede uma página independente deste blog dedicada ao meu trabalho enquanto médico de Clínica Geral, cuja prática apelidei de Medicina com Tempo e que já antes tinha por aqui divulgado. Podem consultar a página para explorar um pouco mais sobre a minha prática clínica carregando na imagem ou seguindo esta ligação: https://medicinacomtempo.pt . Obrigado!

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Apresentação da série documental "1001 Margaraças" no Sábado, dia 21 de Maio de 2022, 21H30, Biblioteca Pública de Évora


A convite do colectivo informal eborense BOLOTARIA, irá ter lugar no próximo dia 21 de Maio de 2022, pelas 21h30, na Biblioteca Pública de Évora, a apresentação dos dois primeiros episódios da série documental "1001 Margaraças". A entrada é gratuita.

O primeiro episódio da série conta a história da Mata da Margaraça, enquanto no segundo episódio da série visita-se um projecto de recuperação ecológica numa área de montanha.

Após a apresentação dos episódios haverá uma conversa informal sobre os temas abordados nos episódios visualizados.

O colectivo BOLOTARIA dedica-se há anos à restauração ecológica de uma área verde da cidade de Évora. Podem ler um pouco mais sobre a BOLOTARIA aqui

Será um grande prazer levar as "1001 Margaraças" a Évora. Estão todos convidados!

Para informações sobre como chegar à Biblioteca Pública de Évora podem consultar esta ligação.


 

 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O novo coronavírus SARS-CoV-2 cada vez mais me faz lembrar o VIH-Vírus da Imunodeficiência Humana

Na história recente, consegue-se definir um tempo antes da pandemia originada pelo VIH-Vírus da Imunodeficiência Humana nos anos 1980, e um tempo depois. No que diz respeito à vida sexual das pessoas, aos comportamentos adoptados pela generalidade da população, há claramente um tempo antes e um tempo depois. E ainda não se conseguiu regressar a um tempo pré-HIV.

Cada vez mais o novo coronavírus SARS-CoV-2 me faz pensar no HIV. Sinto que este novo vírus separa um tempo antes e um tempo depois nas nossas vidas e está para os vírus respiratórios como o HIV esteve e ainda está para os vírus de transmissão sexual desde o seu aparecimento.

Por muito que se tente forçar o regresso a uma 'normalidade' pré-pandemia, não me parece que vá acontecer. Aliás, no Oriente, o primeiro SARS, o SARS-CoV-1 já tinha tido um impacto muito maior do que nós nos apercebíamos no Ocidente.

Os governos e os media bem podem tentar minimizar o risco do vírus e dar a pandemia como terminada uma e outra vez, fechando os olhos aos reais impactos da COVID-19. Mas eu não me imagino a voltar a andar de transportes públicos sem máscara. Ou de avião. Terá que haver um salto enorme na qualidade da ventilação dos espaços para sequer admitir não usar máscara num cinema.

O SARS-CoV-2 também me recorda o HIV pelo impacto que tem no sistema imunitário, e nos linfócitos em particular, e pela discussão ignorante sobre 'morrer com' vs. 'morrer de'.

No entanto, há uma coisa que separa a reacção a estes dois vírus. Muitas pessoas que acham bem continuar-se a condenar em tribunal em vários países pessoas HIV positivas por infectarem parceiros sexuais de forma inadvertida, apesar de todos os cuidados com uso de preservativo e toma de antiretrovirais, por exemplo, são as mesmas que reclamam o direito a infectar de forma intencional outras pessoas com o novo coronavírus, ao recusarem o uso de máscaras, a realização de testes ou o cumprimento de isolamento profiláctico. 

São muitas as diferenças entre estes dois vírus. Mas o seu impacto na nossa vida é comparável a vários níveis.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A COVID-19 é uma doença sistémica que deixa sequelas nos sobreviventes

 

Imagem do estudo "Long covid—mechanisms, risk factors, and management". O vírus SARS-CoV-2 utiliza os receptores ACE2 para entrar nas células humanas e este receptor é praticamente omnipresente no organismo. Uma vez invadidos estes orgãos, a doença causa danos variados que resultam em  sintomas persistentes, como os listados na imagem.

Não é por isso de espantar que a COVID-19 esteja associada a um aumento do risco de diabetes nos jovens, por exemplo, os mesmos jovens que estamos neste momento a infectar às dezenas de milhar por dia, um verdadeiro crime.

E o que mais me preocupa é a disrupção imunitária, com diminuição de linfócitos T e B. Os linfócitos T, por exemplo, são responsáveis pela eliminação de células com mutações que podem dar origem a cancro...

Os apologistas de infectar a população para sair da pandemia não percebem muito bem o que estão a defender. Ou são simplesmente sociopatas.

A lógica da batata: a melhor maneira de prevenir perder uma perna amanhã é cortá-la já hoje!

'Superimunidade' é a nova 'imunidade de grupo'. Curiosamente, os promotores são os mesmos vendedores de banha da cobra.

A lógica é a seguinte: a melhor forma de os vacinados evitarem ter COVID-19 amanhã é tê-la já hoje. Depois de tê-la hoje vão ter tanta imunidade à doença que passam a estar protegidos de a ter amanhã. Percebem? Parece-me claro. E os que morrem por terem COVID-19 já hoje (e que poderiam não a ter tido amanhã, mas que é gente doente que só empata a economia), esses de certeza que não a terão amanhã. Todos 'ganhamos'.

(o facto de os que sobrevivem ir ter sequelas, algumas graves, e de a 'superimunidade' não ir impedir absolutamente nada ao fim de algumas semanas, isso agora não interessa)

Faz-me lembrar a anedota do homem que sempre que voava levava uma bomba na mala. É que a probabilidade de haver duas bombas levadas por pessoas diferentes no mesmo vôo é praticamente nula. Digam lá se não era esperto, o senhor?

Diz-se que Einstein terá dito que estupidez é repetir a mesma acção e esperar resultados diferentes. Eu diria que é continuar a fazer perguntas sobre o futuro da pandemia a quem não acertou uma até agora e bater palmas às respostas. Claro que existem razões para isso, há que amansar a população. E é vê-la, mansinha, a entregar a sua saúde e a dos seus filhos de mão beijada. Apenas há que chamar 'especialistas' às pessoas certas.


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Negação

O número oficial de casos activos de infecção no país aproxima-se dos 5% do total da população. Gráfico de https://covid19.tdias.pt/ .
 

Neste momento, oficialmente, 5% da população portuguesa está infectada com o vírus SARS-CoV-2, ou seja, tem COVID-19. É um número extraordinário. Com uma positividade dos testes altíssima, a rondar os 17,5%, ou seja, em cada 1000 testes feitos e registados, 175 são positivos, não será difícil imaginar que o número real de infecções é ainda maior.

Confrontadas com esta realidade, a negação da gravidade desta infecção é um dos mecanismos de defesa mais usados pela generalidade das pessoas. E a comunidade médica não é excepção.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Quatro semanas depois do pico da Omicron na África do Sul, as mortes continuam a aumentar

Tem havido muita pressa em declarar a variante Omicron como de pouca preocupação. Mas a verdade é que ainda ninguém sabe qual a mortalidade associada às infecções com esta variante. Isto porque 4 semanas depois do pico de infecções na África do Sul, o país onde foi identificada esta variante do SARS-CoV-2, continua a aumentar a taxa de mortalidade, desconhecendo-se ainda qual será a mortalidade final acumulada.

Até ao momento, esta variante aparenta ser cerca de 25% menos mortal do que a Delta, colocando-a ao nível de mortalidade da variante original. Mas sem se ter atingido ainda o pico de mortalidade, não se sabe ainda ao certo.




Da insanidade

Com os casos de COVID-19 a atingir os valores mais altos da pandemia até ao momento em Portugal, não só temos as escolas em ensino presencial, por opção governamental, como reabrem hoje as discotecas...

A Madeira consegue ir ainda mais longe que o Continente, com o dobro da taxa de infecção, a mostrar a eficácia do isolamento de 5 dias em garantir o total descontrolo das infecções.

A minorização dos perigos da infecção é feita por todo o lado. Ninguém discute os perigos a curto e longo prazo, os mortos desapareceram completamente da comunicação social, não se sabe quem são, são invisíveis, não se passa nada. 

Invisíveis são também Graça Temido e Marta Freitas. Sempre que a pandemia atinge as fases mais críticas, desaparecem.

Reina o caos absoluto nas regras de gestão da pandemia. O site da DGS na rede está em baixo há uma semana, não é possível consultar grande parte da informação sobre a pandemia que estava antes disponível, desde Normas de Orientação Clínica a Relatórios de Situação.

Nos debates entre candidatos às próximas legislativas o fogo que varre o país está ausente.

A mensagem para a população é clara: não se preocupem, façam a vida normal, aceitem infectar-se a vocês e aos vossos filhos sem levantar objecções, é uma infecção banal. Assim se fabrica o consentimento de um povo.

Estamos a assistir ao maior crime contra a saúde dos portugueses alguma vez praticado em democracia, com conivência de Presidente da República, Governo, Autoridades de Saúde, restantes Partidos e Sociedade Civil. Assim como o sarampo e a poliomielite no passado marcaram negativamente a saúde de gerações, vamos ter nas próximas décadas uma elevada carga de doença, resultado da COVID-19.

Na altura em que se conclui que a Esclerose Múltipla resulta, provavelmente, de infecção décadas antes com o vírus de Epstein-Barr, o país fecha os olhos às consequências futuras desta infecção, hipotecando a saúde das gerações mais novas.

Vivemos uma insanidade colectiva e ninguém se atreve a rebentar a bolha. Olhar para o que está a acontecer, ver amigos e familiares a cairem que nem tordos, ser incapaz de fazer as pessoas perceberem o perigo da situação... é absolutamente desesperante.




quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A mensagem actual na gestão da pandemia no mundo dito ocidental é clara: "Salve-se quem puder".

Ainda as eleições não aconteceram e no que toca à gestão da pandemia a Iniciativa Liberal já ganhou: 'liberdade individual' acima dos interesses da sociedade.

Baixámos colectivamente os braços, é o "Salve-se quem puder". Margaret Thatcher, esse ídolo neo-liberal, estava certa: não existe sociedade.

E o que mais arrepia é que o que se está a passar é CONSENSUAL... da política aos média, toda a gente parece achar que este é o caminho. Após uns meros dois anos de luta, as nossas sociedades individualistas e mimadas não aguentam mais.

Qualquer dúvida que houvesse de como vamos enfrentar desafios muito maiores do que a COVID-19, como as alterações climáticas, ficam esclarecidas. É cada um por si, e salve-se quem puder. 

PS - muito do que eu penso sobre a pandemia está exposto nesta publicação:  https://threadreaderapp.com/thread/1478611650760437765.html . Recomendo.


 




quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

A erradicação é a melhor estratégia progressista à pandemia do novo coronavírus

O romance pós-apocalíptico The Day of the Triffids foi publicado por John Wyndham em 1951. A premissa desta história de ficção científica anda à volta de um fenómeno astronómico que é observado a nível mundial. No dia seguinte, todos os que observaram o fenómeno supostamente inofensivo - uma maioria da população - acordam cegos.

Uma das premissas da estratégia de mitigação da pandemia a SARS-CoV-2 (COVID-19) é a de que a esmagadora maioria dos infectados recuperam incólumes da doença e vivem felizes para sempre. De acordo com esta estratégia, temos que aprender a viver com o vírus, o mesmo vai tornar-se endémico e em breve, com a ajuda da vacinação, a sociedade voltará ao normal.

A estratégia de mitigação parte de uma minimização dos custos do vírus na sociedade; as vítimas mortais têm sido percepcionadas como maioritariamente as pessoas já desvalorizadas pela sociedade - idosos ou pessoas com doenças - e por isso tem sido fácil para muitos mostrar disponibilidade para deixar morrer estas pessoas como se nada se pudesse fazer.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Slow Medicine: Medicine with Time with Rui Pedro Lérias

I'm starting my private practice as a general doctor and called it MEDICINA COM TEMPO (Medicine with Time). I subscribe to the Slow Medicine Movement. 

We, doctors, need time to practise medicine.
Time to listen to the patient and time to listen to the heart of the patient.
Time to ask and time to ponder.
Time to teach and time to learn.
Time to develop trust.

Fast medicine - emergencies and intensive care - is an essential part of medicine but shouldn't be at the center. Instead, Slow Medicine, medicine with time, should have center stage. Many a trip to the Emergency Department is due to lack of time for patients in primary care.

Succinctly, I now provide general medicine consults for adults in three modalities: face-to-face consultations  in a clinic; telemedicine appointments; house calls.

domingo, 17 de outubro de 2021

Medicina com Tempo: consultas de Clínica Geral com Rui Pedro Lérias

(for information in english, go here.) 

Estou a iniciar a minha prática clínica de forma independente. Chamei-lhe MEDICINA COM TEMPO.

A Medicina precisa de tempo para a sua melhor prática.
Tempo para escutar e tempo para auscultar.
Tempo para reflectir e tempo para explicar.
Tempo para ensinar e tempo para aprender.
Tempo para estabelecer uma relação de confiança.
A medicina rápida, urgente e intensiva, é essencial mas deve ser a excepção;  medicina, o palco principal deve ser dado à medicina com tempo. Muitas urgências apenas o são porque não há tempo para os utentes nos cuidados primários.

De forma breve, passo a disponibilizar consultas de clínica geral para adultos em três modalidades: consultas presenciais em consultório médico; consultas remotas por videochamada (teleconsulta ou telemedicina); consultas presenciais no domicílio.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Desde 1 de Julho de 2021 já morreram em Portugal mais de 2 mil pessoas acima do esperado

Há 90 dias seguidos que morrem mais pessoas em Portugal do que o esperado, considerarando a média de mortes no mesmo período do ano de 2015 a 2019. Desde 1 de Julho de 2021, morreram em Portugal mais 2155 pessoas do que seria de esperar. Em vez dos 23 850 óbitos registados, em média, no mesmo período de 2015-2019, morreram este ano 26 000, ou seja, mais 9% do que o esperado.

Destas 2155 mortes em excesso, as morte oficiais com COVID19 (866) representam apenas 40%. Mantém-se, por isso, a tendência de excesso de mortalidade desde que a COVID19 chegou a Portugal.

Desde o início da pandemia em Portugal, em Março de 2020, já morreram 24 750 pessoas acima do que seria de esperar pela média 2015-2019, um excesso de mortalidade de 15%. Os números oficiais de óbitos com COVID19 são de 17 962 vítimas mortais, 75% deste valor. Além destes números oficiais, morreram mais 6 788 pessoas.

No dia em que a ministra da saúde, responsável por evitar a morte de tantos cidadãos, era ovacionada no congresso do PS, morreram em Portugal mais 37 pessoas do que o esperado. Desde esse dia, já morreram em Portugal 773 pessoas além do expectável. 

Algo está muito mal com a saúde em Portugal.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Continua a morrer mais gente em Portugal com COVID19 agora do que há um ano

Apesar de termos quase 85% da população portuguesa com vacinação completa - excelentes notícias, os portugueses estão de parabéns - nas últimas semanas continuámos a ter mais pessoas a morrer com COVID19  do que no mesmo período há um ano (ver gráfico abaixo).

 
Em Portugal, em Agosto de 2020 morreram 87 pessoas com COVID19 mas em Agosto de 2021 morreram 388 pessoas com COVID19, mais de 4 vezes mais. Nos primeiros 19 dias de Setembro de 2020 morreram 88 pessoas mas nos primeiros 19 dias de Setembro de 2021 morreram 157 pessoas com COVID 19. O mesmo aconteceu com os internamentos, com muito mais pessoas internadas nestes períodos em 2021 do que em 2020.

Sem estes níveis excelentes de vacinação, o número de mortos e internados este ano seria ainda maior do que no mesmo período do ano passado. As vacinas fazem muita diferença. Mas, sozinhas, não fazem toda a diferença.
 
É verdade que neste momentos os números estão a melhorar e estamos a aproximar-nos dos resultados do ano passado. Esta melhoria não é alheia à vacinação dos jovens dos 12 aos 18 ano que se iniciou em meados de Agosto e completou no último final de semana. Desde que se iniciou a vacinação deste grupo etário, o número de casos de infecção com o vírus SARS-CoV-2, antes estável, tem estado a decrescer de forma contínua e a tendência dever-se-á manter durante mais umas semanas, enquanto o efeito protector das vacinas estiver no máximo. Isto confirma o papel fulcral dos jovens na transmissão do vírus na comunidade.
Mas, pouco a pouco, o regresso à escola, o relaxamento das medidas de protecção por parte dos jovens que se sentem agora mais protegidos e sentem que representam menos perigo para os seus familiares, e a diminuição com o tempo do nível de protecção da vacina contra infecção irá inverter esta tendência. Os jovens voltarão a desempenhar um papel fulcral na transmissão do vírus e a situação voltará a agravar-se.

O que os números de mortos de Agosto e Setembro de 2021 mostram é que, mesmo com a nossa elevada taxa de vacinação da população, a vacina por si só não conseguiu que morressem menos pessoas com a variante Delta do que morreram há um ano com a estirpe original do vírus. E, por isso, as perspectivas da pandemia para o próximo Outono/Inverno não merecem o nível de optimismo que se está a transmitir. Não vejo margem para o grande relaxamento de medidas anunciado se se quiser evitar uma repetição da mortandade de Dezembro-Fevereiro passados.



sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Governo e Presidente declaram "Paz para o nosso tempo"

Sete meses passados do pico da 'Grande Guerra' contra a COVID19 que deixou um rasto de morte superior a 20 mil pessoas só em Portugal, e de 10 milhões por todo o mundo, os líderes políticos do país reuniram-se e anunciaram: - "Paz para o nosso tempo!".

Neville Chamberlain, Primeiro-Ministro do Reino Unido, exibe de forma triunfal a Declaração Anglo-Alemã a 30 de setembro de 1938. Foto daqui.

Há 83 anos, a 30 de Setembro de 1938, também Neville Chamberlain regressou triunfal a Londres depois de assinar o Acordo de Munique e anunciava "Paz para o nosso tempo". No Acordo de Munique era dada autorização à Alemanha de Hitler para invadir e ocupar parte da Checoslováquia com a promessa que essa seria a última reinvidicação de Hitler, numa clara tentativa de apaziguamento da ameaça nazi. A Checoslováquia não foi consultada.

A política de apaziguamento era fortemente apoiada pelas classes mais abastadas, pelas grandes empresas, pelos poderes políticos e pelos media como a BBC e o jornal The Times. Os simpatizantes nazis no Reino Unido eram muitos.

Também por cá temos tido uma política de apaziguamento com o vírus SARS-CoV-2. Na 'Grande Declaração do Infarmed' de Setembro de 2021 faz-se a promessa de "Paz para o nosso tempo"; aceita-se ceder a vida dos mais velhos e doentes (viva o Darwinismo Social e a sobrevivência do 'mais forte', as pessoas com co-morbilidades - eufemismo para doentes - merecem claramente ser eliminadas da população) com a promessa que o vírus vai poupar os 'vacinados' - as vacinas são a nossa Linha Maginot - e os 'saudáveis e novos'. Os mais velhos e doentes, para seu bem, serão confinados a isolamento em lares, impedidos de usufruir dos mesmos direitos da restante população, mas libertando desta forma a sociedade (que não os inclui...) do peso de ter que se preocupar com eles.

Pelo menos no Texas são honestos quando dizem aos mais velhos para morrerem pela economia (apesar de a tolerância zero proteger melhor a economia mas isso são pormenores...).

Em 1938, a política de apaziguamento de Chamberlain ainda teve a oposição do Partido Trabalhista e de um tal de Wiston Churchill dos Conservadores. Já hoje, a política de apaziguamento do vírus parece ser praticamente unânime no nosso país e pelo mundo. Apenas a China, Taiwan e Nova Zelândia mantém uma política de tolerância zero. E é ver tanta boa gente a torcer para que a Nova Zelândia falhe na contenção do seu último surto.

A paz durou menos de um ano depois da assinatura do Tratado de Munique; a Alemanha nazi invadiu o resto da Checoslováquia e depois a Polónia. A Segunda Guerra Mundial conseguiria ofuscar a Grande Guerra em mortos.

Por cá, a paz vai durar menos de 3 meses. Gozem-na enquanto podem.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

COVID-19 em Portugal: o Verão de 2021 e a ilusão de grupo (outra vez)

Apesar de todos os avanços com a vacinação em Portugal - a 9 de Agosto de 2021, 61% da população tem a vacinação completa e mais 10% tem já a primeira dose - e apesar da enorme disponibilidade de testes de diagnóstico vendidos a 5 Euros (e até menos), os números crús mostram que estamos hoje significativamente piores nos resultados da gestão da pandemia do que estávamos há um ano.

Nesta altura do Verão de 2021, não só temos mais casos de infecção diariamente (cerca de 10x mais) do que no mesmo período de 2020, como temos mais internamentos (2x mais), mais internamentos em unidades de cuidados intensivos (5x mais) e mais óbitos de pessoas com COVID-19 (5x mais). Sim, os números de óbitos neste momento não se comparam aos do pico de Janeiro e Fevereiro deste ano e, sim, há menos internamentos e menos óbitos por caso, mas a realidade é que, apesar de todas as vantagens em relação a 2020, estamos pior do que há um ano e corremos o sério risco de também não estarmos melhor no próximo Janeiro e Fevereiro. De que serve morrerem menos 90% de infectados depois da vacinação se tivermos 20x o número de infectados? No final, morrerão o dobro das pessoas.




Desde que surgiram as vacinas, investiu-se todo o discurso do combate à pandemia, de forma preguiçosa, na sua eficácia. As vacinas são uma arma importante e poderosa, mas por si só têm um alcance limitado e, até ao momento, ao que parece, contraproducente, ao dar uma falsa sensação de segurança às autoridades - que olharam para a variante Delta com enorme complacência - e população. Continua-se a não investir no rastreamento rápido e eficaz de cadeias de transmissão, continua-se a não reforçar as equipas de saúde pública, continua-se a não controlar fronteiras e a deixar entrar de porta escancarada novas variantes. Volta-se atrás na separação dos circuitos COVID e não COVID. Para poupar uns tostões. Prefere gastar-se centenas de milhão em fármacos sem qualquer eficácia comprovada e em vacinas, na terceira dose, na quarta dose, na quinta dose, e apenas uma ínfima parte em recursos humanos. Paga-se milhares de milhão para compensar as consequências para a economia, e apenas uma ínfima parte para prevenir essas consequências.

Reina, no momento, um optimismo que não é reflexo dos números; a mendicidade intelectual de egotistas e mandatados do regime exibe-se diariamente num noticiário perto de si, com a presença de um número muito menor de gente com tino e verdadeiro insight, e os media continuam a dar colo a negacionistas da realidade pandémica, como durante anos e anos deram colo a negacionistas da mão humana nas alterações climáticas e dos seus perigos, com o resultado que conhecemos. E anuncia-se a 'libertação total' para breve... Não se aprende nada. Apenas compreendo o optimismo de quem genuinamente tem lutado contra a COVID-19 e acredita, com esperança, que já se virou a página. Compreendo o cansaço e a vontade de que o pesadelo esteja a terminar. Mas eu olho para estes números e não consigo partilhar deste optimismo.

Portugal - e o mundo ocidental em geral - continua a não compreender este inimigo, a discutir o sexo dos anjos (ou dos jovens dos 12 aos 15 anos...), a fingir que a vacina é a solução para tudo (ao mesmo tempo que açambarca doses e se recusa a levantar as patentes para permitir que todo o mundo se vacine o mais rápido possível), continua a não compreender as re-infecções e falências vacinais e a sua gravidade, a iludir-se com supostas imunidades de grupo e a não investir na única forma de lidar com esta doença - tentar erradicá-la. Entretanto, mundialmente, o número de mortos cresce sem mostrar sinais de abrandamento, contabilizado em mais de 4 milhões mas sendo o seu número real, com toda a probabilidade, superior a 8 milhões, mais do dobro do registado oficialmente, como se 4 milhões não fosse já um número catastrófico. Como exemplo, só na República Indiana e na Indonésia estão a ficar milhões de mortos por registar.


Este excesso de confiança com os números do Verão já tinha sido registado em 2020 e o Inverno foi a catástrofe que sabemos. Se agora, melhor preparados, estamos piores do que o Verão passado, porque há tanto consenso que nunca mais vamos assistir a uma repetição, menosprezando - mais uma vez - este vírus?

Infelizmente, parece que vai ser preciso repetir-se na Europa e EUA o terrível Inverno de há um ano para finalmente se começar a mudar a estratégia de combate a esta doença para uma estratégia de erradicação em vez da actual estratégia de convivência que tem resultado em tanta morte. Não será já altura da COVID-29 ser levada a sério?

E ainda há quem tenha esperança na Humanidade para resolver a tempo o problema das alterações climáticas...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

No pico da maior crise sanitária de Portugal em décadas, o Governo dispensou dezenas de médicos. Porquê?

Os anúncios de contratação internacional de médicos para dar resposta à pandemia deixam-me incrédulo. Há centenas de médicos não especialistas em Portugal que o Estado não só se recusa a contratar como insiste em enviar para o desemprego. Quem tem medo dos médicos não especialistas?

Sou médico não especialista. Terminei o curso de medicina em 2018 e optei por não fazer o exame de admissão à especialidade. Em 2019 fui Interno de Formação Geral (IFG), o antigo Internato Geral/Internato de Ano Comum e tornei-me, em Janeiro de 2020, médico autónomo.

Todos os anos, em Janeiro, uma nova geração de médicos recém formados inicia o seu Internato de Formação Geral, com a duração de um ano. Cerca de um mês antes de terminar o IFG, dá-se a escolha de especialidade, vaga que será ocupada pelos internos desse ano em Janeiro do ano seguinte, após terminarem a sua formação geral. No entanto, de há cerca de 5 anos para cá, as vagas para a especialidade são insuficientes para todos os médicos recém-formados e centenas não têm acesso à especialidade.

A opção do Estado para estes médicos tem sido sempre e apenas uma: o olho da rua. Chegados a 31 de Dezembro, o contrato de trabalho a tempo incerto que une os internos ao Estado é resolvido unilateralmente pelo Estado. Para os que continuam para a especialidade o impacto é praticamente nulo; assinam novo contrato para a formação específica e continuam a trabalhar para o Estado. Mas as centenas de internos que não conseguiram vaga são, simplesmente, dispensados e enviados para o mundo do trabalho precário. Esta tem sido a escolha de vários Governos desde que deixou de haver vagas para todos na especialidade, os médicos não especialistas que acabaram de terminar o seu Internato de Formação Geral são enviados para o desemprego, para engrossar a fileira da mão de obra médica cada vez mais barata e precária.

O ano passado, em 2020, depois de terminar o meu internato e de ver o meu contrato terminado pelo Estado, e não tendo continuado para a especialidade, foi precisamente isso que aconteceu comigo, fui demitido (o contrato a termo incerto caducar é eufemismo para demissão) e inscrevi-me no centro de emprego como desempregado. Porque era isso que eu era, um médico desempregado. Desde então, trabalhei em diversos locais, de centros de saúde a empresas privadas, sempre a recibos verdes, sempre como precário.

Em 2020, reclamei ainda o pagamento da compensação por caducidade de trabalho que me era devida e penso que terei sido o único médico em Portugal que conseguiu ver este direito reconhecido e pago. O Estado não só dispensa os médicos que não entram na Especialidade, fá-lo com a soberba e má fé que o caracteriza e não paga a caducidade de contrato prevista na lei (depois 'admiram-se' de cada vez mais médicos fugirem do SNS...).

O ano de 2020 viu também chegar a pandemia da COVID19 a Portugal mas as minhas esperanças que com isso se assistisse a uma valorização pelo Estado dos médicos não especialistas cairam em saco roto. Repetidamente a Ministra da Saúde diz que não há mais profissionais de saúde para contratar em Portugal. Mas isto é mentira. Se por um lado a degradação das condições de trabalho para os recém especialistas em Portugal leva a que muitos se recusem a continuar a trabalhar para o Estado após terminarem a sua formação específica, por outro existem centenas de médicos não especialistas em Portugal que o Ministério da Saúde recusa repetidamente contratar directamente.

Eu sei porque tentei. Desde Junho de 2020 até Janeiro de 2021, fiz várias tentativas para reforçar a equipa de saúde pública de Torres Vedras. Foram sempre recusadas pela tutela. Cheguei a ser contactado pelos recursos humanos da ARS de Lisboa e Vale do Tejo para formalização do contrato mas depois o meu contrato nunca foi autorizado. A informação que me foi sistematicamente repetida é que só estavam autorizados contratos para técnicos superiores e não para médicos não especialistas. Depois tentei ir para a saúde pública de Torres Vedras sendo pago por bolsa de horas com empresas prestadoras de serviços, ou seja, aceitei ser 'tarefeiro' para ir para a saúde pública. Não fui autorizado.

Escolhi a saúde pública não só por apetência pessoal mas também porque sempre acreditei que era na saúde pública, no teste e rastreio de contactos, que estava a chave para controlar a pandemia. A ministra da saúde, claramente, não concorda, visto ter sistematicamente negado os pedidos dos delegados de saúde para reforço médico das suas equipas. Seria na saúde pública que o investimento em recursos humanos teria mais eficiência, resolvendo a montante os problemas que agora se acumulam a jusante, nos hospitais, de forma tão dramática. O não reforço atempado destas equipas foi, no mínimo, negligente.

Ainda tive alguma esperança que se tivesse feito luz no ministério da saúde quando em Setembro e Outubro de 2020 foram lançados dois concursos para médicos não especialistas pelas ARS do Alentejo e do Algarve (ver imagem abaixo). Mais valia tarde que nunca! Mesmo nestas áreas do país onde há mais dificuldade em conseguir médicos este concursos ficaram praticamente preenchidos.

Concurso da ARS Algarve para recrutamento de médicos não especialistas para reforçar as unidades de saúde públicas locais. O Alentejo também fez. As ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Centro e Norte, nunca o fizeram.
 

Mas por razões que a razão desconhece, as ARS de LVT, Centro e Norte nunca fizeram o mesmo, ou seja, nunca fizeram um esforço real para reforçar com médicos não especialistas, uma força de trabalho médico com disponibilidade para ser contratada, os seus gabinetes de saúde pública e não houve nenhum concurso para médicos não especialistas por estas autoridades regionais de saúde.

Mas ainda mais extraordinário do que escolher não contratar é escolher demitir. A 31 de Dezembro de 2020, no início do pico desta nova onda da pandemia, mais uma leva de médicos, cerca de 2000, terminou o Internato de Formação Geral. Desses, certamente mais de 100, desconheço os números exactos, não tiveram vaga para iniciar a formação específica e foram dispensados. Demitidos. E desconheço qualquer iniciativa centralizada para os manter ao serviço. Alguns hospitais mostram abertura, caso a caso, para fazer contrato directo com alguns destes médicos. Mas isso é diferente e não tem o mesmo impacto de haver uma atitude centralizada da tutela para manter em funções estes médicos, oferecendo novo contrato de trabalho ou uma adenda ao anterior. Numa altura em que os trabalhadores da saúde estão sobre requisição civil, com os seus direitos de rescisão de contrato limitados, por exemplo, é difícil de perceber que o Ministério da Saúde tenha dispensado estes médicos.

É por isso com alguma incredubilidade que vejo notícias que querem contratar médicos reformados, médicos estrangeiros, médicos formados no estrangeiro (a quem a ordem dos médicos sempre fez a vida negra), médicos às riscas e aos quadradinhos e eu, médico não especialista, português, formado em Portugal, continuo à espera de poder ser contratado para a Saúde Pública ou continuou à espera que o Governo, simplesmente, lance um concurso a sério de recrutamento a que eu e centenas de outros médicos não especialistas possamos concorrer...

Não existem limitações legais para esta contratação. Os médicos não especialistas têm tabela salarial prevista. E, no entanto, o Ministério da Saúde recusa de forma deliberada e sistemática a contratação destes profissionais. Mesmo quando repete, ad nauseum, que não há médicos disponíveis para contratar, uma mentira, como a resposta aos concursos das ARS Alentejo e Algarve demonstrou.

O Ministério da Saúde escolheu não tentar contratar a nível nacional os médicos não especialistas disponíveis. O Ministério da Saúde escolheu dispensar os médicos não especialistas que terminaram a sua formação geral a 31 de Dezembro de 2020. Os apelos a médicos internacionais são um fait diver de um ministério que nunca quis, verdadeiramente, reforçar os seus recursos humanos com médicos disponíveis. É propaganda para consumo interno, para dizer que tentaram, fizeram tudo, para contratar médicos... mas não havia.

É mentira. Havia e há. É uma escolha política não os contratar. Assim como é uma escolha política não respeitar os médicos do SNS de forma a travar a sangria de recursos.

É tudo propaganda, algo em que este ministério é particularmente bom.

O Vírus, esse, não se vai em propaganda e as mortes acumulam-se...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Ligações sobre o Mundo Natural e Conservação da Natureza #9 de 14/12/2020 (em português)

A pandemia tem absorvido quase todo o meu tempo (RPL). Quase dois meses depois, aqui vai mais uma lista de ligações, desta vez só em português. Com a participação da LT!

 

Ainda em destaque, porque este trabalho é de uma enorme importância: 

Livro Digital Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental: Publicação final do projeto já está acessível na sua versão digital  - A versão digital da publicação final do projeto, intitulada «Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental», é disponibilizada hoje no portal do projeto, onde fica acessível para consulta e descarregamento em formato PDF aqui. 24/10/2020

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Ligações sobre o Mundo Natural e Conservação da Natureza #8 de 19/10/2020

Linaria hirta, espécie ameaçada da Flora de Portugal Continental, fotografada por Miguel Porto. Foto daqui.

Destaque: Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal

No dia 13/10/2020 decorreu a conferência “Plantas em Risco de Extinção: A Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental” para apresentação dos resultados do projecto. Ficam alguns ecos dos media. Não encontrei uma única notícia de TV, será possível?