O número oficial de casos activos de infecção no país aproxima-se dos 5% do total da população. Gráfico de https://covid19.tdias.pt/ . |
Neste momento, oficialmente, 5% da população portuguesa está infectada com o vírus SARS-CoV-2, ou seja, tem COVID-19. É um número extraordinário. Com uma positividade dos testes altíssima, a rondar os 17,5%, ou seja, em cada 1000 testes feitos e registados, 175 são positivos, não será difícil imaginar que o número real de infecções é ainda maior.
Confrontadas com esta realidade, a negação da gravidade desta infecção é um dos mecanismos de defesa mais usados pela generalidade das pessoas. E a comunidade médica não é excepção.
Face ao crescimento contínuo do número de internados nos hospitais que testam positivo, multiplicam-se as afirmações de médicos à comunicação social de que as pessoas foram internadas 'por outras causas' e não por COVID-19. E que causas são essas? 'Descompensações de insuficiências cardíacas e renais' são duas das patologias mais citadas. Para estes médicos, a COVID-19, uma doença do endotélio, dos vasos sanguíneos, apenas provoca pneumonia e/ou insuficiência respiratória. Se alguém está infectado mas não tem uma pneumonia, então está doente por outras causas. Diria que não se aprendeu ainda o básico sobre a doença.
Também me parece a mim que esta negação da realidade explicará, em parte, porque não estão a crescer da mesma maneira os internamentos nas unidades de cuidados intensivos (UCIs); morrem hoje muito mais pessoas com COVID-19 por cada 100 doentes internados em UCIs do que em outras fases da pandemia, e não é por falta de camas. Ao longo da pandemia, o crescimento dos internamento gerais era acompanhado pelo crescimento proporcional dos internamentos em UCIs mas, nesta altura, isso não está a acontecer.
Apesar do crescimento acentuado de internamentos de pessoas com COVID-19 não se está a assistir a um proporcional crescimento de internamento em unidades de cuidados intensivos (UCIs). E não é por os doentes internados serem, simplesmente, menos graves; a razão entre o número de mortos com COVID-19 e o total de doentes internados em UCIs é agora particularmente alta, ou seja, estão a ser internados poucos doentes graves em UCIs. Gráfico de https://covid19.tdias.pt/ . |
Como com a variante Omicron parece registar-se uma diminuição do número de pneumonias causadas pela COVID-19 e subsequente necessidade de ventilação - e é difícil negar a necessidade de cuidados intensivos de alguém em falência respiratória - os doentes internados que morrem por estes dias não chegam, na maioria, a ser admitidos em UCI. Lá está, se não têm pneumonia e/ou insuficiência respiratória então a doença 'não se deve ao vírus' e é para deixar morrer, que é outra forma de dizer é para investir menos recursos na sobrevivência destas pessoas porque 'já eram doentes', 'não há mais nada a fazer' e não se vê utilidade em internar estes doentes em UCIs.
Isto apesar de a COVID-19 ser uma doença sistémica e poder causar doença desde o encéfalo às gónadas. Nós temos vasos sanguíneos em todo o corpo. Dizer que a descompensação da insuficiência cardíaca de uma pessoa infectada com o SARS-CoV-2 não se deve ao vírus é o mesmo que afirmar que a pneumonia de uma pessoa com SIDA não se deve ao HIV. É negar o evidente.
Mas negar é (quase) tudo o que se sabe fazer face a este vírus nestes dias. De tal maneira se nega, que quando há dias, no Hospital de São João, Porto, se atingiu mais de 45% de admissões positivas para a infecção logo apareceu uma médica a explicar que 'apesar de estarem infectados, a maior parte ia por outras razões'.
Mas não é preciso grande esforço para perceber que se 'apenas' 5 a 10% da população em geral está infectada mas essa proporção sobe 4 a 9x e 45% das pessoas admitidas nas urgências estão infectadas, então se calhar - se calhar, digo eu - os dois grupos não são independentes um do outro e foi a infecção que tornou 4 a 9x mais provável a ida às urgências. Ou que outra razão haveria para que quem descompensa tenha, por coincidência, 4 a 9x mais hipóteses de estar infectado? Porque não descompensam os outros 90 a 95% da população da mesma maneira? Estou certo que este contraste seria ainda maior se soubéssemos a idade dos internados e as taxas de infecção desses grupos etários na população em geral; os internados são provavelmente mais velhos e a taxa de infecção é mais baixa nestes grupos, tornando o contraste entre a taxa de infecção da população em geral e a taxa de infecção dos internados mais gritante... e esclarecedora sobre a real causa de internamento.
Só que isto choca com dois mitos inabaláveis neste momento, o de que a variante Omicron do SARS-CoV-2 causa doença ligeira e que os vacinados não têm doença grave, a não ser que tenham outras doenças (ou seja, esses é para deixar morrer). Estes mitos estão de tal forma entranhados na população em geral - para isso têm trabalhado as autoridades e a comunicação social - que a única forma de aceitar a realidade dos números astronómicos de novas infecções com que somos confrontados todos os dias, é negar a sua importância. A outra alternativa é questionar a validade dos dois mitos e parece que muito pouca gente está ainda preparada para o fazer.
A proporção de infecções diárias por SARS-CoV-2 dos grupos etários mais novos (até aos 19 anos) atingiu agora os valores mais altos da pandemia e duplicou de cerca de 18% de todos os casos no início das aulas em Janeiro de 2022 para 36% de todos os casos 15 dias depois. E isto no contexto de maior pico de infecções da população. Ou seja, o número absoluto de crianças a infectar-se na escola é estratosférico (e ainda há quem negue que a escola é motor da pandemia...). A ausência de alarme social face a isto apenas é explicada por uma gigante dose de negação. Gráfico de https://covid19.tdias.pt/ . |
Porque, convenhamos, não é fácil aceitar que se está a infectar de forma propositada as crianças e adolescentes do país, ameaçando a sua saúde a curto e longo prazo. A ausência de alarme social quando as pessoas vêem os seus filhos, netos e sobrinhos a infectar-se demonstra bem o sucesso da narrativa de que este vírus é inofensivo. (E mostra como se consegue levar populações inteiras a fazer o impensável...)
Vai ficar tudo bem.
Espero que fique mesmo tudo bem! Apesar das vacinas, máscaras e tudo o mais, cá por casa ficou tudo de molho, com a virose da moda vinda do ambiente escolar.
ResponderEliminarTambém espero que sim. Desejo de rápida recuperação para todos. Infelizmente, é mesmo muito difícil para quem tem filhos na escola escapar ao vírus.
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