Isso mesmo, perceberam bem. E não é só durante as feiras do livro, em que os editores vendem livros directamente ao público muito mais baratos do que vendem às livrarias. Isto passa-se todo o ano.
Imaginem o seguinte cenário. Um produtor de ovos achega-se a uma cadeia de supermercados - com cantigas, cartões ou talões, tanto faz - e diz que lhes fornece os seus lindos ovinhos a 7 cêntimos a unidade, e que o preço de venda ao público é de 10 cêntimos a unidade. A dita cadeia, ao ir visitar a página na net deste fornecedor, descobre que este vende directamente ao público os mesmo ovos a 6 ou 7 cêntimos.
Esta cadeia diria, com certeza, que não só o desconto inicial proposto era insuficiente como está completamente fora de questão o público ser fornecido directamente mais barato. Como é que a dita cadeia poderia apostar na divulgação de um produto que depois seria muito mais barato comprar directamente ao fornecedor?
Pois é. O mercado do livro está cheio destas incongruências. Não admira que livreiros (e editoras) vão à falência uns a trás dos outros.
Esta editora vende livros online directamente ao consumidor a preços mais baratos do que nos quer vender enquanto livreiros. Ou seja, eu ajudava a divulgar os livros e depois as pessoas iam comprar na net muito mais barato. A resposta foi, como imaginam, stuff it, pardon my english, que eu às vezes estala-me o verniz...
E assim vai o mercado do livro em Portugal. Muitas editoras portuguesas - grandes e pequenas - andam completamente almareadas sobre o que andam por cá a fazer.
Claro que depois é preciso a APEL garantir feiras do livro de Lisboa e Porto cada vez mais longas, e impor regras de exclusividade para as editoras, para estas - que muito fazem, consciente ou inconscientemente, para levar livrarias à falência - irem escoar o que não conseguiram vender. E tudo isto com apoio de dinheiro público por supostamente estarem a prestar um serviço à população e à cultura. E lá estarão os do costume a elogiar a feira do livro e o seu movimento, ignorando completamente que livrarias saudáveis, de porta aberta todo o ano, são um serviço público muito mais importante do que 3 semanas de mercado de livros.
Mas há mais, claro. Depois de, anos a fio, arrasarem com os pontos de venda, - que afinal até lhes fazem falta - Leyas e Portos Editoras tentam agora ser elas próprios os pontos de venda. Seria cómico se não fosse trágico. Estas editoras acham mesmo que conseguem competir consigo próprias. Vai ter alguma piada ver a Buchholz e as Bertrands às moscas enquanto a Leya e a Porto Editora vendem os seus livros com 40 e 50% de desconto na feira do livro. Pode ser que percebam a incompatibilidade do modelo de negócio que querem impor. Talvez venham a perceber que quem arruína a sua rede de distribuição - própria ou alheia - tem pouca chance de se dar bem.
(mas sobre a feira do livro há mais a dizer depois; nós estamos inscritos, num acto de loucura colectiva de todo o pessoal gerente da empresa)
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