terça-feira, 10 de agosto de 2021

COVID-19 em Portugal: o Verão de 2021 e a ilusão de grupo (outra vez)

Apesar de todos os avanços com a vacinação em Portugal - a 9 de Agosto de 2021, 61% da população tem a vacinação completa e mais 10% tem já a primeira dose - e apesar da enorme disponibilidade de testes de diagnóstico vendidos a 5 Euros (e até menos), os números crús mostram que estamos hoje significativamente piores nos resultados da gestão da pandemia do que estávamos há um ano.

Nesta altura do Verão de 2021, não só temos mais casos de infecção diariamente (cerca de 10x mais) do que no mesmo período de 2020, como temos mais internamentos (2x mais), mais internamentos em unidades de cuidados intensivos (5x mais) e mais óbitos de pessoas com COVID-19 (5x mais). Sim, os números de óbitos neste momento não se comparam aos do pico de Janeiro e Fevereiro deste ano e, sim, há menos internamentos e menos óbitos por caso, mas a realidade é que, apesar de todas as vantagens em relação a 2020, estamos pior do que há um ano e corremos o sério risco de também não estarmos melhor no próximo Janeiro e Fevereiro. De que serve morrerem menos 90% de infectados depois da vacinação se tivermos 20x o número de infectados? No final, morrerão o dobro das pessoas.




Desde que surgiram as vacinas, investiu-se todo o discurso do combate à pandemia, de forma preguiçosa, na sua eficácia. As vacinas são uma arma importante e poderosa, mas por si só têm um alcance limitado e, até ao momento, ao que parece, contraproducente, ao dar uma falsa sensação de segurança às autoridades - que olharam para a variante Delta com enorme complacência - e população. Continua-se a não investir no rastreamento rápido e eficaz de cadeias de transmissão, continua-se a não reforçar as equipas de saúde pública, continua-se a não controlar fronteiras e a deixar entrar de porta escancarada novas variantes. Volta-se atrás na separação dos circuitos COVID e não COVID. Para poupar uns tostões. Prefere gastar-se centenas de milhão em fármacos sem qualquer eficácia comprovada e em vacinas, na terceira dose, na quarta dose, na quinta dose, e apenas uma ínfima parte em recursos humanos. Paga-se milhares de milhão para compensar as consequências para a economia, e apenas uma ínfima parte para prevenir essas consequências.

Reina, no momento, um optimismo que não é reflexo dos números; a mendicidade intelectual de egotistas e mandatados do regime exibe-se diariamente num noticiário perto de si, com a presença de um número muito menor de gente com tino e verdadeiro insight, e os media continuam a dar colo a negacionistas da realidade pandémica, como durante anos e anos deram colo a negacionistas da mão humana nas alterações climáticas e dos seus perigos, com o resultado que conhecemos. E anuncia-se a 'libertação total' para breve... Não se aprende nada. Apenas compreendo o optimismo de quem genuinamente tem lutado contra a COVID-19 e acredita, com esperança, que já se virou a página. Compreendo o cansaço e a vontade de que o pesadelo esteja a terminar. Mas eu olho para estes números e não consigo partilhar deste optimismo.

Portugal - e o mundo ocidental em geral - continua a não compreender este inimigo, a discutir o sexo dos anjos (ou dos jovens dos 12 aos 15 anos...), a fingir que a vacina é a solução para tudo (ao mesmo tempo que açambarca doses e se recusa a levantar as patentes para permitir que todo o mundo se vacine o mais rápido possível), continua a não compreender as re-infecções e falências vacinais e a sua gravidade, a iludir-se com supostas imunidades de grupo e a não investir na única forma de lidar com esta doença - tentar erradicá-la. Entretanto, mundialmente, o número de mortos cresce sem mostrar sinais de abrandamento, contabilizado em mais de 4 milhões mas sendo o seu número real, com toda a probabilidade, superior a 8 milhões, mais do dobro do registado oficialmente, como se 4 milhões não fosse já um número catastrófico. Como exemplo, só na República Indiana e na Indonésia estão a ficar milhões de mortos por registar.


Este excesso de confiança com os números do Verão já tinha sido registado em 2020 e o Inverno foi a catástrofe que sabemos. Se agora, melhor preparados, estamos piores do que o Verão passado, porque há tanto consenso que nunca mais vamos assistir a uma repetição, menosprezando - mais uma vez - este vírus?

Infelizmente, parece que vai ser preciso repetir-se na Europa e EUA o terrível Inverno de há um ano para finalmente se começar a mudar a estratégia de combate a esta doença para uma estratégia de erradicação em vez da actual estratégia de convivência que tem resultado em tanta morte. Não será já altura da COVID-29 ser levada a sério?

E ainda há quem tenha esperança na Humanidade para resolver a tempo o problema das alterações climáticas...

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