Eu sou admirador de uma pequena árvore de folha caduca da nossa flora. Reveste-se na Primavera de pequenas folhas que no Outono ganham cores vivas, encarnadas. Não é muito abundante em Portugal. Aliás é algo rara e a Sul praticamente desaparecida. Existe nas Serras da Arrábida e, já na zona Centro, nas de Montejunto, Aire e Candeeiros. Por vezes, está reduzida a um ou dois exemplares perdidos pelo meio das serras. No Norte, vai sendo mais abundante.
Trata-se da zêlha Acer monspessulanum. Podem ver duas referências a esta pequena árvore no blogue as minhas plantas, onde a autora encontrou um raríssimo exemplar ainda existente na Serra de Montejunto, e no blogue Dias com árvores, desta vez à beira Tua, no Norte, onde, apesar de escassa, a zêlha se vai vendo com mais frequência.
Trata-se de um membro dos bordos, do género Acer. As folhas mais conhecidas em Portugal deste género são as do padreiro Acer pseudoplatanus que, como o nome indica, tem uma folha que lembra a de um plátano Platanus orientalis. O mesmo se passa com a folha de bordo que está na bandeira do Canadá, muitas vezes confundida com a folha do plátano. Estas folhas são palmadas, com cinco lóbulos, apesar de os dois lobos inferiores serem mais pequenos.
As folhas da zêlha são pequenas, e em geral trilobadas, poucas vezes mostrando o quarto e quintos lóbulos. No Jardim Botânico da Universidade de Lisboa há um exemplar discreto, mas bonito, na margem do lago do meio.
Foram as folhas da zêlha que serviram de inspiração para o logotipo da loja. Não só gosto da árvore de onde vem, como gosto do desenho da folha. Ao mesmo tempo, os três lóbulos são sugestivos, para mim, de várias outros temas relacionados com história natural. Se por um lado parecem as pegadas de certas aves, por outro lembram a classificação de Robert Whittaker da vida pluricelular na Terra em três grandes grupos - plantas, animais e fungos - com o pecíolo da folha a representar as bactérias e protistas.
Mas, de forma mais correcta, os três lóbulos lembram as três grandes linhas evolutivas de vida na Terra: arqueobactéria; eubacteria; eucariota. Gosto de pensar que a simples folha de zêlha representa, assim, a árvore filogenética do nosso planeta.
Mas, de forma mais correcta, os três lóbulos lembram as três grandes linhas evolutivas de vida na Terra: arqueobactéria; eubacteria; eucariota. Gosto de pensar que a simples folha de zêlha representa, assim, a árvore filogenética do nosso planeta.
Por estas razões, o logotipo da Loja de História Natural, baseado na folha de uma bela mas rara árvore de Portugal, quer também representar a diversidade da vida. É um tema que me é caro, uma das razões porque abri a loja e que me levaram a querer inaugurar no dia internacional da biodiversidade, 22 de Maio de 2010.
Fez já um mês. Mas esse balanço fica para outro dia! Assim como a explicação das quatro palavras - flora, geo, astro, fauna - que sublinham o logotipo.
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