sexta-feira, 1 de abril de 2011

Comprar livros a Municípios e Agências Municipais: um excelente retratro do país

Um município português edita um livro sobre o património natural da sua zona. O livro tem qualidade e decidimos tê-lo na nossa loja, contribuindo para a divulgação turística do mesmo. Simples? Infelizmente, quase nunca.

Já tivemos oportunidade de falar na Câmara Municipal de Lisboa. De um dia para o outro, sem pré-aviso, deixaram de fazer descontos a livreiros.  Apresentámos uma queixa por escrito, há mais de dois meses, que ainda não teve resposta. Mas como sou casmurro e quero é servir melhor os nossos clientes, continuamos a ter cá os dois livros que nos interessam. Mas esta atitude auto-derrotista das câmaras está generalizada.

Dou-vos outro exemplo. Contactei a Agência Cascais Atlântico, iniciativa da Câmara Municipal de Cascais, para ter na loja um livro editado por esta agência. Contestei, no entanto, a sanidade das suas condições comerciais: 15% de desconto base para livreiros, que pode ir até 25% em pedidos de mais de 10 cópias quando o desconto mínimo para uma livraria sobreviver é cerca de 30%; as mesmas condições para pagamentos imediatos ou colocação à consignação, com pagamento depois de vender. Ora se as consignações são interessantes, nós optamos normalmente por pré-pagamento, principalmente se nos forem dadas melhores condições comerciais para pagar a pronto. O que faz sentido: a pronto o fornecedor não corre riscos e fica logo com a mercadoria paga.

A resposta que obtivémos à nossa sugestão foi típica:

"A Agência Cascais Atlântico é uma agência Municipal que desenvolve projectos ligados ao Mar de Cascais, num desses projectos foi desenvolvido o livro Cascais Atlântico em parceria com o autor, Miguel Lacerda. Como poderá verificar pelo nosso site, o "nosso negócio" não é de todo a venda de livros e apenas consideramos a disponibilização do livro na sua livraria pelo âmbito da mesma sendo que em Cascais o livro se encontra à venda no Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, na Livraria Municipal e no Centro Cultural de Cascais."

Ou seja, estão a fazer-nos um 'favor' em se darem ao 'trabalho' de pensarem em nos vender o seu livro. E ainda mais derrotista, o livro já está à venda em Cascais e por isso não precisa de ser vendido em mais lado nenhum. Esta forma de pensar deixa-me exasperado. Porque considero que é precisamente fora de Cascais que este livro deve estar, para divulgar o seu património e atrair visitantes. Porque quem compra o livro no Município de Cascais já lá está!

Como não gostei desta resposta, disse-o no mail seguinte, confirmando no entanto a encomenda de uma cópia a pronto pagamento. O resultado foi que, passados dois meses, continuo à espera  da encomenda ou de uma resposta à mesma. Passei a ser, simplesmente, ignorado!

Resumindo: queremos ajudar Cascais a divulgar o seu património; aceitamos condições comerciais que não aceitamos a nenhuma editora; mas somos confrontados com um muro de silêncio de quem acha que vender aquele livro não é sua obrigação, nem o seu negócio.

Então, expliquem-me lá, para que é que o editaram?

Hoje enviei novo mail, a pedir a cortesia de uma resposta à encomenda. E informando que na ausência de resposta vimo-nos na obrigação de apresentar uma reclamação formal. Não é uma ameaça, é uma contestação. Em Portugal queixamo-nos muito, mas quando chega a hora de reclamar por escrito, está quieto. Também é verdade que a reclamação que fiz junto da Câmara Municipal de Lisboa até agora não teve sequer direito a uma resposta. Mas, que não me acusem depois de não tentar.

E quem diz Cascais diz uma série de outros municípios por este país fora que editaram publicações e que depois não têm políticas comerciais de como recuperar o investimento e divulgar o seu património além fronteiras municipais.

E nós aqui vamos navegando estas águas.

PS - Não quero deixar de notar, no entanto, que o nosso contacto directo com o Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Cascais para termos na loja o novo livro "Guia das Plantas do Passeio Pedonal Guia-Guincho" está a decorrer com toda a normalidade. Boas notícias!

PPS- Entretanto, recebi resposta à minha pergunta sobre a demora de dois meses em me responderem. A resposta, desta vez vindo pelo que tudo indica, de um superior da pessoa com quem antes lidei, é esclarecedora:

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Exmo. Sr. Pedro Lérias,

Boa tarde,


Cumpre-me informar de que não é, de todo, interesse da Agência Cascais Atlântico disponibilizar exemplares do livro “
Cascais Atlântico” para serem colocados à venda sob consignação.

Mais informo, e conforme referido abaixo, caso pretenda adquirir um exemplar deste livro, o respectivo PVP é de 34 €, não sendo efectuados quaisquer descontos sobre o mesmo.

Em alternativa, e uma vez que refere que não conhece o livro, sugerimos que consulte o mesmo num dos locais abaixo indicados onde o livro está disponível e assim poderá ver esclarecidas quaisquer dúvidas que tenha relativamente à obra e conteúdo da mesma.

Sem outro assunto de momento, subscrevo os melhores cumprimentos,

(Pela Agência Cascais Atlântico)

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Quer dizer então que não fazem descontos, nem colocam à consignação, visto não ser 'de todo' do seu interesse. Então o email que recebi anteriormente deve ter sido um lapso:

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Exmos Srs.

Agradecemos o vosso contacto e informamos que o preço de venda ao público actualmente praticado do livro “Cascais Atlântico - Fauna Submarina de Cascais” é de 34 €.

Assim informamos que as nossas condições de fornecimento poderão ser uma das duas abaixo apresentadas:

Disponibilização do nº de exemplares pretendido, em regime de consignação (por exemplo, por um período de 3 meses mediante depósito de uma caução correspondente a 25% do PVP dos mesmos. Após este período proceder-se-á ao respectivo acerto de contas em função dos exemplares vendidos por vós.

Compra directa à Atlântico dos livros pretendidos para revenda posterior

Compra até 5 livros (15% de desconto) (...)
 

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Agora digam-me, isto faz sentido? A nossa loja perde a oportunidade de divulgar um livro em português sobre Cascais e a Agência CascaisAtlântico perde a oportunidade de vender vários livros. Mas enquanto provavelmente irei encontrar um outro título  que pode substituir este, e já tenho um título espanhol em mira, será Cascais que ficará a perder na recusa dos seus agentes públicos em divulgarem o seu património, apesar de existirem para esse fim.

Não será este um belo retrato de um país à beira da bancarrota?

2 comentários:

  1. Boas,

    A história que nos conta é caricata. Infelizmente, do investimento público em Portugal, não se espera retorno e não se trabalha com objectivos concretos e mensuráveis. Aqui fica mais uma prova disso mesmo.
    É assim que se aumenta a despesa e a dívida.

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  2. Boa tarde, Obrigado pelo seu comentário.
    E tem toda a razão. Esta agência, por exemplo, tem 1 presidente e 4 administradores. São mais os administradores do que o pessoal técnico.

    E como esta há muito outras.

    E nem esta história de não conseguir ser fornecido por municípios é única.

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