segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Visita ao EVOA: uma tarde muito bem passada e a repetir

O Centro de Interpretação do EVOA. O janelão da cafetaria tem uma vista espectacular. O edifício faz lembrar uma palafita. No topo do edifício, à direita, vê-se uma caixa ninho ocupada por corujas-das-torres!

Fui, finalmente, conhecer o EVOA-Espaço de Visitação e Observação de Aves. Saí com duas certezas: pena de não ter ido há mais tempo e vontade de regressar!






Localizado às portas de Lisboa, este projecto ambicioso nasce da vontade de valorizar um conhecido local de observação de aves na Reserva Natural do Estuário do Tejo, a Ponta da Erva, propriedade da Companhia das Lezírias. É um exemplo que se quer ver mais vezes de colaboração entre várias entidades para a concretização de um projecto de elevada qualidade.

O que mais me impressiona é a ambição no conceito e a sua excelente execução. É um projecto pensado de raíz que implicou a criação de 3 novas lagoas para servirem de habitat às aves. As lagoas foram desenhadas para permitir a observação de aves a partir de vários refúgios e pontos de vista, para além de criarem condições físicas variadas, de forma a aumentar a diversidade de aves que as usam.


A chegada - o Centro de Interpretação

A vista da cafetaria. Foto daqui.
O edifício onde está sedeado o Centro de Interpretação é muito bonito. Todo revestido a madeira, quando visto do exterior, faz lembrar uma palafita, um tipo de construção muito adequado a este habitat em terras húmidas e alagadiças do Tejo.

O Centro de Interpretação está muito bem equipado para receber os visitantes, com a exposição permanente, pequena loja, biblioteca, e outras instalações, mas quero começar por referir a parte que usufruímos em primeiro, ou não tivessemos chegado por volta das 14h ainda por almoçar.

Fomos acolhidos numa cafetaria que nos permitiu comer e ficar satisfeitos, a preços que me surprenderam pela razoabilidade, com uma vista fenomenal. Íamos com algum receio por ainda não conhecermos, mas comemos uma sopa de peixe maravilhosa e escolhemos entre as tostas e saladas para complementar a sopa. Os sumos naturais também foram uma agradável surpresa - um ananás deu para apenas 3 sumos! Sem pretensões, almoçámos com qualidade, com uma vista espectacular sobre a paisagem, servidos por pessoal muito simpático e acolhedor. Iremos voltar para revisitar as lagoas mas também para almoçar ou lanchar de vez em quando.





A visita guiada

Seguimos então para as visitas guiadas, incluídas no custo de entrada. Fizemos primeiro a visita guiada à exposição permanente e seguimos de imediato para a visita guiada às lagoas, equipados com binóculos emprestados pelo EVOA e com um pequeno guia de identificação de aves que fez toda a diferença e que está também incluído no preço de entrada. Uma vez equipados com os binóculos e guia de identificação, saímos acompanhados pelo nosso guia.

Mapa do EVOA, para planear a sua visita. Estas lagoas não existiam e foram criadas de raiz para o usufruto de aves e pessoas. Um projecto ambicioso!

Visitámos a Lagoa Principal e a Lagoa Rasa, ficando a Lagoa Grande para ser explorada noutro dia. Nesta visita guiada vimos 20 espécies diferentes de aves, incluindo flamingos, colhereiros, pernilongos, galeirões, combatentes, milherangos, narcejas e andorinhas-das-barreiras - para nomear algumas! - e sempre com a ajuda e interpretação por parte do guia, o Luís Avelar, que para além do seu conhecimento e entusiamo foi equipado com um excelente telescópio para permitir uma melhor observação das espécies.

O guia da visita foca o telescópio em mais uma espécie de ave para o grupo observar. Com ampliações poderosas e estabilizado pelo tripé, o telescópio levado pelo guia enriquece muito a visita.

Os flamingos são uma das observações mais desejadas, pelo tamanho, beleza e associação a zonas mais tropicais e tivemos a sorte de ver um bando de flamingos a alimentar-se na Lagoa Rasa. Pessoalmente, gosto muito de ver colhereiros e não saí desiludido, tendo visto indivíduos em repouso e a alimentar-se. Os mergulhões-pequenos abundavam também e apesar do pequeno tamanho são aves muito dinâmicas e engraçadas.

Um bando de flamingos na Lagoa Rasa. Estavam incrivelmente próximos de nós, escondidos no observatório. Os tons rosa das suas penas variavam entre os indivíduos, de rosa pálido a rosa forte.


Devo salientar que não sou de todo especialista em aves mas saí de barriga cheia, num dia que não deverá ter sido particularmente bom para a observação de aves, por ser final de Verão e ainda não ter começado a migração em força. Mas fiquei deslumbrado e satisfeito com as que vi e com vontade de regressar e esse é um dos grandes trunfos do EVOA, há sempre aves em número e diversidade e o ciclo anual de estações está sempre a alterar a composição da comunidade de aves, e todas as visitas serão visitas diferentes.

No final da visita guiada regressámos ao Centro de Interpretação onde, do janelão da cafetaria, pudemos observar as cores do final de tarde na Lezíria, enquanto reabastecíamos com bolo de maracujá caseiro.

Sobre o preço de admissão

O preço da entrada para >12 anos é de 12€. Confesso que o preço foi uma das razões que me levou a atrasar a primeira visita ao EVOA. É uma quantia que já inspira algum respeito e que muitos consideram, à primeira vista, excessiva. No entanto queria partilhar aqui a minha opinião após visitar.

Começo por dizer que não era claro para mim que este custo incluía a visita guiada. A visita guiada é essencial para se usufruir do EVOA, pelo menos na primeira visita. Quem não esteja habituado a observar aves não conseguirá tirar proveito da biodiversidade à disposição e sairá certamente desapontado. A visita guiada é uma enorme mais valia e faz toda a diferença, também na percepção do custo da visita. Após ter participado na visita guiada com um total de cerca de 3 horas (45 minutos à exposição permanente e um pouco mais de duas horas às lagoas) considero o preço muito adequado. A pessoa pode ainda  usufruir do EVOA antes e/ou depois de participar na visita guiada.

A visita às lagoas implica uma agradável caminhada pela Lezíria, com as aves e o vento como ruído de fundo, o que só é possível por se limitar o número de visitantes diários, o que tem um custo.


Por outro lado, seria impossível tirar proveito do EVOA com centenas de pessoas a visitar ao mesmo tempo. O ruído e movimento afastariam as aves, empobrecendo a visita. Desta forma, é necessário limitar o acesso ao espaço, para que quem visita usufrue, mas isso implica menos entradas, menos rendimento e, necessariamente, um aumento do custo de admissão.

Finalmente, após visitar, fiquei também a conhecer melhor a génese e execução do projecto assim como as condições de recepção, acolhimento e visita às lagoas. E tudo isto, com a qualidade que tive o prazer de usufruir, tem um custo. Ainda não estamos muito habituados a pagar por estas coisas em Portugal. Mas projectos de qualidade têm custos de manutenção e se queremos que o EVOA sobreviva e seja sustentável então temos que estar preparados para pagar aquilo que eles custam. Temos que nos desabituar de ser tudo gratuito.

Eu saí convencido da minha visita que paguei um preço mais que justo pelo que desfrutei. E fiquei com vontade de regressar. O preço, quando não se conhece, pode parecer excessivo. Mas é minha opinião que vale bem a pena.

Observatório da Lagoa Principal. Do interior dos observatórios a vista sobre as aves é excelente.

A Loja de História Natural e o EVOA

Durante a concretização do projecto do EVOA, a Loja de História Natural foi chamada a colaborar com a venda dos livros que constituiram a biblioteca inicial do Centro de Interpretação. Foi um pedido de colaboração que me marcou por me permitir contribuir para um projecto de valor, um dos papeis que ambicionava para a loja: ser um parceiro privado na persecussão de objectivos individuais e institucionais de conservação da natureza.

Este contacto partiu da iniciativa da LPN-Liga para a Protecção da Natureza que reconheceu na loja as habilitações para ajudar nesta matéria, algo que eu gostaria que tivesse acontecido mais vezes com outras organizações. Fiquei feliz por ter podido agradecer ontem mais uma vez à Sandra Paiva, actual colaboradora do EVOA e na altura um dos elementos da equipa técnica da LPN responsável pela execução do projecto do EVOA. Foi uma surpresa agradável encontrá-la. Fiquei também muito feliz por ter tido o Luís Avelar como guia. Foi um querido apoiante da loja e do nosso trabalho.

Como sócio da LPN há 20 anos e responsável pela Loja de História Natural, ontem senti-me um pouco em casa no EVOA, uma sensação que não esperava mas que me soube bem. Muito obrigado pela forma como nos receberam e recebem todos os visitantes e pelo excelente trabalho que fazem. Desejo o maior sucesso.

O final da Visita

Após uma última visita à cafetaria seguimos viagem, tendo ainda os 11 kms de terra batida para regressar à estrada nacional pela frente. Entre aves, arrozais, gado bovino e um bonito pôr-do-sol, despedimo-nos do EVOA e finalizámos uma tarde surpreendentemente agradável.

Vão visitar o EVOA, apoiem, divulguem e usufruam do nosso património natural.

A localização do EVOA, às portas de Lisboa, no estuário do Tejo. Ver no Google Maps aqui.


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