quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Afinal foram sete as espécies de carvalho: a visita ao Corredor Verde para comemorar o aniversário da LPN foi assim

Entre zimbros. Foto de Inês Machado (LPN) retirada daqui.

Mesmo sem a bandeira nacional hasteada ninguém perdeu o Norte e às 9h30 em ponto - grupo pontual! - iniciámos a visita. Podem ler um relato da mesma na página da LPN-Liga para a Protecção da Natureza aqui.

O percurso deu-nos oportunidade para encontrarmos muitas espécies da nossa flora. Começámos com alguns exemplares arbustivos como o pilriteiro Crataegus monogyna, a murta Myrtus communis, o azereiro Prunus lusitanica e o folhado Viburnum tinus. Falámos depois um pouco dos laços de família que unem a olaia Cercis siliquastrum, a robínia Robinia pseudoacacia e a alfarrobeira Ceratonia siliqua, árvores leguminosas cujos frutos - vagens semelhantes às dos feijoeiros - mostravam bem o parentesco entre elas.

Foto de Inês Machado (LPN) retirada daqui.
Aproveitámos a proximidade de um carvalho-alvarinho Quercus robur e de um carvalho-americano Quercus rubra para olhar para as suas folhas e ver a diferença entre os ângulos agudos bem marcados da espécie americana - à direita na foto - e a forma mais ondulada/arrendondada das espécies nacionais autóctones - à esquerda na foto.

Seriam as primeiras espécies de carvalhos do dia. Acabaríamos por visitar sete espécies no total!

Mas antes, num promontório com excelente vista sobre o aqueduto das águas-livres e sobre a serra de Monsanto, viajámos no tempo geológico para ouvir um resumo da história geológica de Lisboa e da serra de Monsanto, contada por Jorge Fernandes, professor de geologia associado da LPN.

A serra de Monsanto vista do corredor verde. Foto de Margarida Sá Pires.

Jorge Fernandes (à esquerda). Foto de Margarida Sá Pires.
Ficámos, assim, a conhecer parte da grande diversidade geológica da cidade de Lisboa e os processos que deram origem à serra de Monsanto e ao rio Tejo. A geologia, os solos e a vegetação estão profundamente ligadas!

Trevo-de-4-folhas. Foto ICNF.
Continuámos a nossa visita à sombra de belos exemplares de pinheiro-manso Pinus pinea e no prado de trevo Trifolium sp. do jardim da Amnistia Internacional procurámos pelo trevo-de-quatro-folhas como brincadeira para falar da Marsilea quadrifolia, o verdadeiro trevo-de-quatro-folhas, um feto aquático muito raro e ameaçado da nossa flora.

Avançámos para visitar as hortas urbanas de Campolide onde um simpático hortelão nos explicou como funcionam. À sombra de uma amoreira-branca Morus alba ouviu-se a história trágica de Píramo e Tisbe, lenda da Babilónia contada por Ovídio nas Metamorfoses (e não Virgílio como erradamente disse na visita...). Um belo exemplar de medronheiro Arbutus unedo foi a desculpa para falar nesta espécie e na particularidade da fermentação do seu fruto dar origem não só ao etanol mas também ao metanol, um alcoól tóxico.

Flor masculina de alfarrobeira à esquerda, feminina à direita. Foto de Margarida Sá Pires.
Seguimos para a serra de Monsanto, passando pela Quinta do Zé-Pinto. No parque florestal falámos um pouco sobre a história da sua reflorestação e sobre o processo de sucessão ecológica que se observa. Falámos ainda do papel da fauna, do gaio à raposa, na dispersão de sementes. A história da re-introdução do esquilo-vermelho em 1993 foi também abordada. Comparámos, de seguida, as flores de duas alfarrobeiras, um exemplar com flores apenas com as peças femininas e que dará origem ao fruto e um exemplar com flores apenas com peças masculinas que fornecerá o pólen para a polinização.
O parque do Calhau, um montado lisboeta. Foto de Margarida Sá Pires
O resto da visita seria dedicada aos carvalhos autóctones de Portugal. O montado do parque do Calhau é muito rico em espécies de carvalhos e tirámos o maior proveito.

A sombra mista de sobreiros, à esquerda, e azinheiras, à direita. Foto Inês Machado (LPN).
Comecámos por comparar a azinheira Quercus rotundifolia com o sobreiro Quercus suber, espécies de carvalho de folha perene. Seguimos para um belo exemplar de carvalho-cerquinho Quercus faginea, carvalho de folha marcescente. Seguiram-se duas espécies de folha caduca, mais associadas ao Norte e Centro do país. O carvalho-alvarinho Quercus robur, é mais comum em zonas mais húmidas, e o carvalho-negral Quercus pyrenaica, é mais comum em zonas mais quentes e secas no estio.

As folhas do carvalho-negral, aveludadas, ao tacto são inconfundíveis. Foto Inês Machado (LPN).
Já na subida para o Moinho das Três Cruzes, onde terminámos a visita, ainda vimos um carrasco Quercus coccifera. No total, vimos seis das oito espécies de carvalhos da nossa flora, ficando a faltar apenas o carvalho-de-Monchique Quercus canariensis e a carvalhiça Quercus lusitanica.

Antes de darmos por encerrada a visita, eu, o Jorge Fernandes e a Inês Machado, responsável pela organização logística da visita, agradecemos a calorosa companhia de todos os que estiveram presentes e apelámos a que continuem a apoiar a Liga para a Protecção da Natureza nas suas actividades e que, sem medos!, se associem. O trabalho da LPN necessita do apoio de todos.

O Moinho das Três Cruzes, onde terminámos a visita. Bravi! Foto de Inês Machado (LPN).

Foi uma manhã muito agradável. Obrigado a todos os que participaram. E um agradecimento meu ao Jorge Fernandes, à Inês Machado e à Maria Lopes, técnicos ao serviço da LPN que acompanharam a visita e ajudaram a torná-la mais rica em conteúdos, fizeram o registo fotográfico e garantiram a segurança de todos. Agradeço ainda à Margarida Sá Pires todo o registo fotográfico e em vídeo que fez da visita. Os vídeos podem ser visualizados, a partir do primeiro de dez no total, nesta ligação.

Podem ver mais fotos na página da LPN-Liga para a Protecção da Natureza aqui.

Em Setembro de 2017 há mais! Conto com a vossa companhia?

Sem comentários:

Enviar um comentário